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  • Ausência
    14.10.2017—06.01.2018
    INAUGURAÇÃO: 13.10.2017
    Em colaboração com SABRINA AMRANI GALLERY
    Curadoria:



    © Joël Andrianomearisoa e UMA LULIK_ _

    Fotografia: Bruno Lopes





    © Joël Andrianomearisoa e UMA LULIK_ _

    Fotografia: Bruno Lopes





    Ausência #1, 2017 (detalhe)

    © Joël Andrianomearisoa e UMA LULIK_ _

    Fotografia: Bruno Lopes





    Dead Tree of My New Life, 2017

    © Joël Andrianomearisoa e UMA LULIK_ _

    Fotografia: Bruno Lopes





    Ausência #2, 2017 (detalhe)

    © Joël Andrianomearisoa e UMA LULIK_ _

    Fotografia: Bruno Lopes





    Ausência #5, 2017

    © Joël Andrianomearisoa e UMA LULIK_ _

    Fotografia: Bruno Lopes





    Declinação barroca

    Na tradição artística do ocidente, a utilização da monocromia, ou a redução do espectro cromático, andaram frequentemente a par com uma certa desconfiança do trabalho manual – ou é esse o discurso moderno.

    No entanto, e por muitas formas, a utilização da monocromia foi exigindo, pelo menos a partir do momento em que surgiu com uma determinada formulação canónica (poderíamos dizer, a partir do amadurecimento das propostas ubíquas de Yves Klein e o escurecimento da paleta de Ad Reinhardt), uma progressiva e inerente proficiência da manualidade e da opticalidade. Se este processo parece contraditório em relação ao carácter programático da redução da paleta, ele não deixa de se justificar simplesmente: a redução nominal da paleta implicou uma amplificação da subtileza do olhar; a construção de gradações tonais e o seu desenvolvimento, quer com razões fenomenológicas, quer analíticas, implicou um saber fazer muito específico e uma progressiva finura de procedimento.

    É nesta herança que se situa, pelo menos numa primeira abordagem, o trabalho de Joël Andrianomearisoa, artista nascido em Madagáscar em 1977 e residente em Paris. De facto, as suas construções, quer usando o papel, quer têxteis, o vidro ou a imagem fotográfica, partem de elaboradas e seriais construções espaciais em gradações de branco ou negro tornando inevitável a aproximação às acromias de Piero Manzoni, mas também à obra de Robert Ryman. Em relação a este último, a aproximação é quase inevitável, na medida em que ambos os artistas desenvolvem trabalho em séries para a realização das quais é essencial uma proficiência de execução na qual se contem a sua produção de sentido. As falsas (porque tonalmente desmultiplicadas) monocromias de Joël Andrianomearisoa, no entanto, são frequentemente tridimensionais e não permitem uma abordagem analítica, até porque a sua ligação a procedimentos tradicionais, a forma como implica procedimentos atemporais e colectivos, frequentemente rituais (como a forma de enrolar os corpos), convocam uma antropologia, ou, pelo menos, a criação de um procedimento antropológico votado à complexidade do urbano. Estas vivências plásticas e tradicionais do corpo que incluem o uso do Lamba (o pano que é tradicionalmente usado como cobertura polimorfa para o corpo) até ao enfaixamento dos corpos como procedimento funerário, constituem parte das convocações da obra de Andrianomearisoa. Existe, no entanto, uma segunda diferença, possivelmente tão importante como a primeira e que consiste na criação de uma poética do espaço definida pela articulação de estruturas espaciais que encerram, por vezes, uma certa ironia, quase disfarçada pela delicadeza dos materiais. Numa palavra, há uma consciência barroca do espaço no seu trabalho – a que não será alheia a sua formação como arquitecto –, na medida em que o sentido se liberta pela dobra, pelo plissado que estrutura as suas formulações imagéticas, através do espaço intersticial que é, também o que caracteriza o espaço barroco.

    Assim, as referencias autobiográficas razoavelmente crípticas, a sensibilidade dos materiais, a ductilidade das formas e a sua fragilidade, funcionam como motores que activam as remissões para contextos culturais, bem como para o domínio das poéticas subtis do quotidiano, para o urbano como lugar onde inúmeras linguagens confluem em imagem.

     

    — Delfim Sardo



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